Seção 2

Dados que gritam a realidade

O futuro da agricultura é feminino

“Em quase todas as propriedades rurais da Alemanha há mulheres trabalhadoras. Segundo os dados mais recentes, cerca de 341.000 mulheres realizam atividades no setor agropecuário. Não obstante, em 2016, só 9% dos 276.000 administradores de propriedades rurais do país eram mulheres. De acordo com uma pesquisa realizada com 514 trabalhadoras agrícolas dentre 18 e 39 anos de idade, 25% delas eram empregadas em tempo integral ou parcial nas propriedades rurais, enquanto só 29% eram trabalhadoras independentes. A maioria, aproximadamente 40%, afirmou que trabalhava sem contrato.”

Há uma coisa que devo deixar muito clara aos leitores desde o princípio: no plano pessoal, tive muitos privilégios. Cresci em um país e em uma época nos quais os direitos das mulheres já não eram objeto de negociação. No entanto, atualmente, como naquela época, há muito por fazer para garantir que as mulheres possam contribuir da mesma forma que os homens em todos os âmbitos da vida pública e ocupar cargos executivos, bem como para assegurar que não sejam elas, se não lhes é oferecida outra opção, quem devam renunciar à sua carreira ou assumir uma dupla carga extrema assim que formam uma família. Também nesses momentos a posição das mulheres em nossa sociedade pode ser considerada sumamente exemplar: durante muitos anos, tivemos a Dra. Angela Merkel à frente de nosso Governo.

A agricultura tem diversas facetas: em muitos países, pode simbolizar um árduo trabalho manual, enquanto em outros, constitui uma parte da economia que está digitalizada e que utiliza tecnologia de ponta. Embora em algumas regiões áridas do mundo os agricultores lutem para obter qualquer produto a partir dos escassos recursos naturais disponíveis, em outras regiões do planeta, as colheitas parecem sair do nada.

Não obstante, apesar das diferenças fundamentais quanto a requisitos como condições climáticas, tipos de cultivo e grau de tecnologia em uso, a agricultura se apresenta de forma semelhante em todas as partes do mundo. Ela proporciona, a todos nós, a base dos alimentos que consumimos, condição sem a qual não seria possível nossa existência. Por conseguinte, não se trata de um setor qualquer, mas de um dedicado à vida e a seus elementos essenciais.

Mas, a quem nos referimos quando falamos de agricultura? Que está por trás desse termo? Em várias regiões da Terra, a maioria dos agricultores é de mulheres. São principalmente as mulheres que alimentam o mundo!

Lamentavelmente, sua contribuição nem sempre é igualmente apreciada. Em minha opinião, devemos dirigir nossos esforços para combater essa falta de consciência e reconhecimento.

As mulheres rurais de todo o mundo

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada pela Organização das Nações Unidas, ressalta acertadamente a transcendência da igualdade de gênero. Não se trata apenas de um fim em si mesmo, mas também de um princípio diretor global estabelecido em 11 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Nenhum país pode esperar um desenvolvimento bem-sucedido se não incluir as capacidades, os conhecimentos e a criatividade de metade da sua sociedade. Em termos econômicos, isso constitui um intolerável desperdício de recursos.

No que diz respeito a como nos vemos e tratamos uns aos outros, a discriminação da mulher na sociedade é sinal de uma estrutura social obsoleta que precisa urgentemente de uma renovação. Corresponde a todas nós assegurar que essas mudanças ocorram em nossas próprias sociedades. Esse é um dos motivos pelos quais meu Ministério apoia as mulheres que habitam as zonas rurais e que se dedicam à agricultura.

Os fatos falam por si mesmos.

Sua função na agricultura e nas zonas rurais é de uma importância mundial: as mulheres constituem a pedra angular de nossas zonas rurais.

De acordo com a Organização Mundial de Agricultores, em todo o mundo, 43% das pessoas que trabalham na agricultura são mulheres, enquanto em alguns países, até 70% da mão de obra agrícola é feminina. Elas são as responsáveis por entre 60% e 80% da produção mundial de alimentos.

Em diversos países, industrializados ou em desenvolvimento, as mulheres rurais também são afetadas pela pobreza, pela desigualdade e por insuficientes oportunidades de educação, devido ao que costumam enfrentar escassas possibilidades de viver e prosperar nessas zonas.

No entanto, são principalmente as gerações mais jovens que lutam por uma vida melhor no país: as jovens rurais, que mostram grande entusiasmo e paixão por melhorar as condições de vida das zonas rurais, não só garantirão que essas continuem sendo zonas viáveis para se viver, mas também que suas regiões continuem sendo atrativas e dinâmicas.

As mulheres rurais da Alemanha

Em quase todas as propriedades rurais da Alemanha há mulheres trabalhadoras. Segundo os dados mais recentes, cerca de 341.000 mulheres realizam atividades no setor agropecuário. Não obstante, em 2016, só 9% dos 276.000 administradores de propriedades rurais do país eram mulheres. De acordo com uma pesquisa realizada com 514 trabalhadoras agrícolas dentre 18 e 39 anos de idade, 25% delas eram empregadas em tempo integral ou parcial nas propriedades rurais, enquanto só 29% eram trabalhadoras independentes. A maioria, aproximadamente 40%, afirmou que trabalhava sem contrato. Além disso, se comprovou que eram trabalhadoras qualificadas, uma vez que quase 68% tinha completado cursos de formação vocacional, 29% tinha realizado estudos universitários em ciências agrícolas e 22% tinha recebido capacitação empresarial.

90% das pesquisadas trabalhava em empresas familiares e um terço delas trabalhava mais de 40 horas por semana na propriedade.

Em sua jornada, 67% das entrevistadas dedicava seu tempo cuidando de animais, 62% realizava trabalho de escritório e 43% efetuava trabalhos de gestão operacional. Um número muito menor delas trabalhava no campo (quase 24%), 14% trabalhava em relações públicas e 12% realizava atividades relacionadas a vendas diretas de produtos agrícolas.

53% das mulheres afirmou que tomava decisões de negócios juntamente com seu par. Aproximadamente 29% delas era consultada na tomada de decisões, mas seu companheiro tinha a última palavra. Finalmente, cerca de 10% não exercia influência alguma no futuro da propriedade rural onde vivia e trabalhava. Somente 8% expressou que tomavam as decisões empresariais sobre a propriedade sozinhas.

Permita-me expressar o significado desses dados em termos da cotidianidade das mulheres na agricultura:

A maior parte dessas mulheres recebeu alguma forma de capacitação agrícola e mais da metade possui um título universitário em ciências agrícolas ou administração de empresas. A maioria trabalha em tempo integral. Uma percentagem significativa delas realiza trabalhos de gestão operacional. Então, que tipo de reconhecimento, remuneração e poder de tomada de decisões podem esperar essas mulheres? Trata-se de trabalhadoras familiares, que só aparecem nas estatísticas como “as esposas dos proprietários das explorações agrícolas”. Em numerosos casos, carecem de um contrato de trabalho, enquanto sua seguridade social depende de sua condição de cônjuges dos produtores. Apesar de muitas delas desempenharem funções de gestão operacional, não são capazes de tomar suas próprias decisões acerca do futuro da propriedade.

Isso apresenta uma imagem bastante antiquada da vida agrícola. Parece que a igualdade de gênero ainda não está totalmente arraigada em muitas propriedades rurais. Essa situação deve mudar. A agricultura não é um âmbito exclusivamente masculino; nunca o foi nem o será. De fato, muitas mulheres costumam trabalhar em explorações agrícolas, além de ter outro trabalho. Administram o lar, criam seus filhos e cuidam de seus pais idosos. Em muitos casos, atuam também como voluntárias em clubes e organizações ou participam da política no plano governamental local. Elas contribuem para configurar nossa coesão social e definir a maneira como vivemos no campo.

Organizações e redes de mulheres rurais

Essas jovens produtoras escolheram uma vida em que devem colocada as necessidades dos demais antes das suas. Sua vida cotidiana é consideravelmente diferente da das mães de nossas cidades, as quais frequentemente deixam seus filhos na creche para ir correndo para a próxima reunião ou conferência de negócios. Também na propriedade rural, as mulheres estão muito ocupadas. Já não aceitam sua situação; em vez disso, organizam eventos e reuniões, estabelecem redes e apoiam umas às outras. A LandFrauenverband (Associação Alemã de Mulheres Rurais), um bom exemplo dessas redes, dedica-se a melhorar as vidas dessas mulheres, aborda questões relativas a elas e as incentiva a participar desse trabalho.

As mulheres rurais e seu papel de empreendedoras

Implementar uma empresa abre novas portas às mulheres das zonas rurais, por isso a LandFrauverband respalda a iniciativa de lhes oferecer assistência para que, mediante o estabelecimento de um negócio, gerem seus próprios meios de vida. Isso oferece às mulheres com um alto nível educacional oportunidades para permanecer nessas zonas e, por conseguinte, melhorar sua infraestrutura. Além disso, pode constituir um passo para sua independência financeira e uma possibilidade de pôr em prática o princípio de igualdade por retribuição. Além disso, as empregadoras servem de modelo a ser imitado.

As mulheres rurais no âmbito da política

Também se mostra essencial estimular as mulheres rurais a participar da arena política. A paridade entre mulheres e homens no parlamento é uma norma que temos fixado a nós mesmos.

Aproximadamente 100 anos depois da introdução do sufrágio feminino, as mulheres ainda estão sub-representadas nos parlamentos alemães, o que também se aplica a cargos municipais. Um exemplo disso é o posto de administrador de distrito, o de mais alto nível nessa unidade administrativa. Dos 294 funcionários eleitos, 28 são mulheres, o que representa 9,5% . Faz muito tempo que a percentagem de mulheres que ocupam postos ou posições na política municipal, em organismos administrativos rurais, conselhos de supervisão e comissões de cogestão na estrutura de autogoverno das instituições de seguridade social parou de crescer. Portanto, a LandFrauenverband apresentou uma campanha denominada Frauen!Wählem (As mulheres votam!), com o objetivo de aumentar consideravelmente a percentagem destas nas juntas administrativas e nos conselhos de administração e supervisão das empresas estatutárias alemãs de seguros de saúde, acidentes e pensões, uma vez que as decisões tomadas nessas comissões têm um enorme impacto na vida dos assegurados. As mulheres devem influenciar nessas decisões.

O dinamismo das zonas rurais: um motivo para que seus habitantes permaneçam nelas

Para garantir que as habitantes das zonas rurais façam parte na vida pública, devemos lhes proporcionar serviços de creche seguros e uma infraestrutura de comunicação digital confiável. Esses aspectos, unidos intrinsecamente, são a plataforma que lhes permitirá participar dos assuntos políticos dessas zonas.

Precisamos de pessoas que se preocupem, que assumam responsabilidades, que se envolvam e que abordem os problemas que requerem nossa atenção. Precisamos de indivíduos interessados em uma causa e comprometidos com ela e que desejem compartilhar seus conhecimentos. A contribuição de agentes da sociedade civil é tão importante como os serviços públicos em funcionamento e o fortalecimento econômico de uma região. Vez por outra temos ouvido acerca da importância das parcerias tri-setoriais, pelo que devemos prestar a mesma atenção ao Estado, aos mercados e à sociedade civil. Já é hora de adotar medidas de políticas que estimulem o estabelecimento de uma sólida comunidade social no plano municipal, a fim de fortalecer o dinamismo das zonas rurais.

O trabalho voluntário nas zonas rurais O voluntariado constitui uma atividade importante dos povos dinâmicos. Mais de 30 milhões de cidadãos alemães participam de diferentes formas desse trabalho — desde a participação individual em atividades locais, até o trabalho voluntário em clubes, igrejas, iniciativas de trabalho social, brigadas de bombeiros, grupos de interesses políticos e profissionais e parlamentos municipais. Em particular, as Landfrauem (mulheres rurais) costumam ser voluntárias ativas. Para manter e ampliar essas estruturas, devemos apoiar as voluntárias com empregados em tempo integral que fomentem as conexões entre a sociedade civil e a política municipal e que reconheçam e valorizem o trabalho dessas mulheres.

Essa cooperação seguirá prosperando se apropriadamente valorizada.

A igualdade de gênero como um dos objetivos do financiamento das zonas rurais

A igualdade entre homens e mulheres é um direito fundamental reconhecido. De acordo com a legislação europeia, todo financiamento e programa de ajuda deve promover esse direito.

Portanto, deve ser nosso objetivo melhorar a qualidade de vida e as condições de trabalho de todas as mulheres das zonas rurais. Nesse sentido, o Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) constitui um instrumento chave de financiamento.

Entre os programas de financiamento de longo prazo criados pelo FEADER se incluem diversos que têm ajudado a proporcionar uma melhor infraestrutura às mulheres. Somente por esse tipo de enfoque podemos assegurar uma participação mais igualitária entre mulheres e homens em todos os níveis dos programas individuais. As finalidades desses programas nas zonas rurais são diversas, por exemplo, aumentar a percentagem de mulheres empregadas no setor, oferecer assistência para o estabelecimento de estruturas de cooperação e organizar campanhas de igualdade de gênero. Desejamos utilizar diversas medidas de financiamento para melhorar a infraestrutura demandadas pelas mulheres de todas as idades e suas famílias, reduzir o êxodo rural e criar incentivos para que as pessoas regressem às zonas rurais.

O estudo sobre mulheres rurais realizado pelo meu Ministério

Espera-se que a política esteja a serviço dos cidadãos, portanto, não deve ignorá-los nem passar por alto suas necessidades. Frequentemente me pergunto como é realmente a vida das agricultoras da Alemanha. Como é a sua rotina diária? Quais são as suas condições de vida e de trabalho? Que possibilidades elas têm de continuar a se desenvolver? Como podem continuar sua educação, iniciar processos de crescimento e gerar seu êxito pessoal?

Também me pergunto como a vida das mulheres rurais se vê afetada pela transformação que ocorre na agricultura e na sociedade.

Devemos realizar uma busca mais profunda das respostas a essas perguntas. Somente então saberemos o que exatamente nos falta e encontraremos soluções adaptadas que tornem a vida no campo mais atraente e fácil para as mulheres rurais.

É pelo que foi dito que meu Ministério está investindo meio milhão de euros em um estudo pelo qual se coletará, registrará e avaliará todos esses aspectos e iniciativas. Isso nos proporcionará uma base científica segundo a qual saberemos como promover e apoiar melhor as mulheres na agricultura. Além disso, permitirá sondarmos novas possibilidades e prepararmos o caminho para o seu futuro aproveitamento. Esse estudo apresentará um âmbito verificável de cifras e dados que me oferecerão informações para adotar as medidas políticas necessárias. Em um período de três anos, serão entrevistadas mais de 30.000 mulheres do setor agrícola e suas respostas serão analisadas.

Isso exigirá uma visão diferenciada dos desafios que enfrentam e as cargas que suportam. Meu objetivo é aumentar a visibilidade do compromisso dessas mulheres com as zonas rurais e fomentar o grande potencial para a inovação nesse âmbito.

Nossas zonas rurais constituem os motores de nosso país e as mulheres do campo são a força que os impulsionam.

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Josette Altmann Borbón • Pobreza e inserción productiva de las mujeres rurales Julia Klöckner

Ministra de Alimentação e Agricultura da República Federativa da Alemanha